CARLOS FREDERICO PINTO DA SILVA
Bacharel em Direito e Pedagogia.
Carioca (do Rio de Janeiro) do Engenho Novo.
Diretor da Divisão de Mão-de-Obra da DRT/DF (na época da edição do livro, em 1985. Residindo em Brasília desde 1960.
ANTOLOGIA DE POETAS DE BRASÍLIA. Rio de Janeiro, DF: Shogun Editora e Arte Ltda, 1985. 140 p. Coordenação editorial: Christina Oiticica.
[Este exemplar foi doado por Carlos Edmundo da Silva Arnt, que tem seu poema na p. 27, para a biblioteca da Caixa Econômica, de Brasília, em 1985. A empresa se desfez do acervo e este exemplar foi para a livraria “sebo” de nosso amigo José Jorge Leite de Brito, que por sua vez nos doou um lote de livros para ajudar na montagem de nosso Portal de Poesia Ibero-americana, em 2021. A editora explicava: “Se você é um autor novo e quer editar seu trabalho, fale com a gente.”, na intenção de promover a criação literária entre os jovens. ]
MAGOA DE UMA SECA
Oh, campo meu, outrora verdejante!
Que é de ti nesta seca inflamante?
Recordo o teu barro que amassava
nos dia mais quentes e noites de luar...
e hoje, o abandono a te maltratar,
sem a brisa que te acalentava.
Aqui, longe, choro teu destino.
Choro sim, por ti e teu desatino
porque este chão secou bastante.
Verde? Já não te vejo nas ramas;
choro ainda pela caatinga em chamas,
por tua gente a viver sempre errante.
Só mesmo o valor e envergadura
do povo, a fechar a rachadura,
pelo calor, aberta em tua terra.
É uma gente que labuta e canta;
não se abate mas que se levanta
na luta infinda que não se encerra.
Lá, somente as esperanças chovem
p´ra molhar plantas que nem se movem,
bem como este chão só de pó
a se transformar numa clareira
durante o ano todo e a vida inteira;
e o teu filho lá continua: só e só.
E o tempo quente que te maltrata,
castiga, assola tua vida ingrata,
sem se importar com a tua dor.
O amanhã te surgirá fulgindo
enquanto teu trabalho já é findo
neste solo seco e abrasador.
É a coragem que anima a tua raça
que do céu espera por uma graça,
tua gente que não sabe mais sorrir.
Tua colheita sempre desejada
por todos e agora desmanchada,
conservará em ti a crença do porvir.
E este caboclo sempre confiante,
trabalha de maneira incessante
neste solo hostil e ainda rachado,
rebelde qual Saara que é deserto.
Não adormece e de coração aberto,
continua firme, forte e calado.
A dor é tanta que teu destino
o leva p´ra o Sul qual peregrino,
deixando p´ra trás, tudo amarelo:
teu pássaro, monte e campina
que a natureza assim tão ferina,
aniquilou o teu passado belo.
E a Deus rogas para que o precioso
líquido, caia e no solo gracioso
germine de maneira abundante,
o pequenino grão que é a semente
p´ra que a vida volte assim ardente
a ouvir o grito do teu berrante.
E nesta terra que certo dia abristea
não mais ouvirá os teus cantos tristes.
E, lá no fundo de tua sacola
verão o fruto. Tua consciência em paz,
gritará alto à Pátria em que viverás:
não querer dela aceitar esmola.
Morrem teus pastos e tuas sementes
que não germinara no tempo ardente.
E tu, caboclo forte em vigília,
voltarás à terra dura e estreita,
esperando pela água e colheita
trazendo consigo tua família.
Volte, volte e não mais sejas egoísta.
A ti pertence toda a conquista.
O teu labor não aceita outros ares.
Desabroche a terra o seu florir;
faça teu povo uma vez mais sorrir,
quando os lamentos não mais cantares.
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Página publicada em fevereiro de 2021
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